Inês Felipa José, 46 anos, tem cinco filhos: Sônica, Tibúrcio, Joaquim, Emanuel e Camatondo. Responsável pelo sucesso de uma das radionovelas mais ouvidas em Angola, Inês se tornou redactora por acaso.
A primeira escolha profissional da Inês, nascida no Huambo, foi a agronomia. Inês estudou até o terceiro ano quando, por causa da guerra, a escola foi encerrada. Na época, em 1991, além da faculdade, Inês dava aulas no Instituto Médio Agrário e fazia trabalhos voluntários na Igreja Batista, a visitar presos. Além de levar comida para os reclusos, o grupo também criava atividades para gerar renda para a população carcerária, como artesanato e bordado, e agricultura para ajudar na alimentação dos reclusos.
Na Igreja Batista, Inês ocupou os cargos de secretária da Igreja, professora da Escola Bíblica Dominical. Em nível provincial, foi secretária executiva da Junta Social e secretária provincial para a União Feminina da mesma instituição. Em nível nacional, foi secretária de mesa da Convenção Baptista. Inês continuava a dar as aulas enquanto desenvolvia estas actividades voluntárias.
Em 2003, Inês foi convidada pela organização não-governamental World Vision para trabalhar em um projecto de comunicação direccionado aos camponeses, onde permaneceu um ano, a trabalhar na radionovela Conversas na Lavra. Com o final da guerra em 2002 e com a reabertura da faculdade, Inês retomou os estudos.
Seis meses depois, a World Vision convida uma consultora brasileira, Maria Benevides Cassuça, para avaliar a radionovela. Cassuça gostou tanto do que viu e ouviu que convidou Inês para se candidatar a um posto no projecto de rádio da IRIN – órgão das Nações Unidas. O processo de seleção foi competitivo, mas Inês conquistou a vaga. O novo emprego não poderia vir em melhor hora – em meio a um divórcio complicado, que não era aceito pela Igreja Batista, Inês decide ir para Luanda.
O NASCIMENTO DE CAMATONDO
Inês começou a trabalhar na Irin em 2004, como productora assistente de uma radionovela que estava a ser criada. O nome? Camatondo.
“Quando comecei a trabalhar com a radionovela, sob o comando de Cassuça e de Ana da Silva, a equipa já havia criado alguns personagens. No entanto, tinham nomes brasileiros como Maria Aparecida e não retratavam a realidade angolana. A idéia era que a radionovela seria escrita por um guionista da Rádio Nacional de Angola (RNA), mas o acordo acabou por não dar certo."
A GESTAÇÃO
Inês nunca havia trabalhado em rádio até começar a escrever Conversas na Lavra. “Ainda assim, era um trabalho na base do entusiasmo, já que eu não possuía nenhuma formação. Tempos depois, tivemos uma formação de uma semana, dada pela ONG Search for Common Ground e isso foi tudo o que eu tive de teoria. Eu considero que ainda estou a aprender.”
Talvez a falta de conhecimento teórico tenha dado a Inês a liberdade de ousar e de criar novos formatos. “Camatondo foi a primeira radionovela a não ter narrador. Com isso, ela quebrou a estrutura de radionovela tradicional. O ouvinte precisava ter mais imaginação e também precisávamos ambientar melhor as cenas” – explica a guionista.
O CASTING
Depois de formatados os personagens e escritos os primeiros guiões, chegou a hora de escolher quem daria vida aos personagens. A forma encontrada foi fazer um casting no auditório da Rádio Nacional.
240 actores se inscreveram para o teste, que foi realizado com duas eliminatórias. “Durante duas semanas, ficamos naquele auditório, com os olhos fechados, tentando escolher a voz que melhor se adequava a cada um dos 23 personagens” – explica Inês José.
Um a um, os actores foram sendo escolhidos, mas faltava a personagem principal. A escolha unânime recaiu na actriz Valéria Mussunda para o papel. Inês não se arrepende: “a actriz é muito boa!!!”
No início, a radionovela ia ao ar às 14 horas, mas a equipa não tinha nenhuma idéia do retorno, se os ouvintes gostavam ou não.
A primeira notícia sobre a audiência veio através de um conhecido que vivia em Londres. De visita a Angola, contou que os todos os seus amigos no Bengo ouviam Camatondo. Daí surgiu a idéia de visitar as províncias e nasceram os Road Shows.
Em 2010, Camatondo completa cinco anos e Inês José continua a escrever a radionovela que conquistou Angola.

